Epidemia da violência atinge mulheres de Barueri. Negras e moradoras da periferia são as mais vulneráveis

Nas últimas semanas, fiquei perplexa ao analisar os dados do Atlas da Violência 2024, divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os números não mentem: o Brasil enfrenta uma crise silenciosa e devastadora de violência contra as mulheres.

Segundo o Atlas da Violência, quase 50 mil mulheres foram assassinadas no país entre 2012 e 2022, sendo 3.806 apenas em 2022. “Este número alarmante, contudo, pode ser apenas a ponta do iceberg, uma vez que a subnotificação é uma realidade constante em casos de violência de gênero em todo o país”, esclareceu a advogada Sueli Amoêdo, em recente entrevista ao Podcast Voz da Vez, disponível aqui.

À CNN Brasil, Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e coordenadora do Atlas da Violência, também comentou os índices preocupantes do Atlas. “A violência acompanha meninas e mulheres por toda a vida: negligência na primeira infância, violência sexual na pré-adolescência, violência física na fase adulta e negligência na terceira idade”.

A realidade em Barueri

Em Barueri, cidade onde resido, presenciamos cada vez mais casos chocantes de violência contra mulheres, muitos dos quais têm grande repercussão na mídia. O crime mais recente que me marcou foi o assassinato de Giselle, de 38 anos, morta brutalmente a facadas, pelo ex-companheiro, na Vila São Silvestre no mês passado.

Hoje, o município disponibiliza serviços de apoio, como a base Guardiã Maria da Penha e a Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher (DDM). O Guardiã Maria da Penha oferece medidas protetivas e acompanhamento personalizado para mulheres em situação de risco. O programa garante monitoramento eletrônico do agressor, acompanhamento psicológico e social, além de encaminhamento para abrigos e centros de referência, quando necessário.

No entanto, a demanda por proteção e suporte é crescente. Caminhando por Barueri e conversando com as mulheres, sinto de perto a realidade alarmante: os casos de violência, em todas as suas formas, estão aumentando na cidade, seja na periferia ou até mesmo nos condomínios de luxo.

Ser mulher no Brasil: um desafio sem precedentes

Ainda sobre os índices divulgados no Atlas deste ano, separei alguns dados alarmantes, para compartilhar aqui neste artigo. O retrato, confesso, é desolador. Em 2022, uma mulher foi estuprada no Brasil a cada 46 minutos, e a maior parte das vítimas de violência sexual são meninas com menos de 14 anos. Oito em cada dez casos de agressão ocorreram dentro de casa. Os homens foram os principais agressores, responsáveis por 86,6% dos casos de violência doméstica e intrafamiliar. Esta última refere-se à violência cometida por membros da família.

De acordo com o documento, há uma “epidemia” de violência sexual contra meninas no Brasil. Em 2022, a violência sexual alcançou 49,6% das meninas nessa faixa etária, entre 10 a 14 anos de idade. Esses dados foram obtidos nos registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Entre crianças de 0 a 9 anos, a incidência de violência sexual é de 30,4%.

66% das mulheres assassinadas no Brasil são negras

Das mais de 3,8 mil mulheres assassinadas no Brasil em 2022, ainda segundo o Atlas da Violência, 66,4% das vítimas eram negras ou pardas. Mulheres pretas e pardas têm 1,7 vezes mais chances de serem mortas em comparação às não negras, destaca o Atlas. O estudo constatou que as mulheres negras são mais frequentemente vítimas devido ao racismo estrutural e institucional, além da falta de políticas específicas para protegê-las.

O descaso por parte do poder público é um dos responsáveis por essa situação crítica. É essencial que as autoridades municipais e estaduais adotem medidas mais eficazes e inclusivas para garantir a segurança e o bem-estar de todas as mulheres, especialmente aquelas que vivem nas regiões mais vulneráveis da cidade. Apenas com um compromisso real e ações concretas poderemos transformar essa triste realidade. Posso assegurar que minha luta para mudar essa situação assustadora segue inabalável.

Serviço:

Base Guardiã Maria da Penha – Rua Sergipe, nº 89, Aldeia de Barueri

Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher (DDM) – Avenida Sebastião Davino dos Reis, 756, Jardim Tupanci.

*Moradora de Barueri (SP), Gaby Morais é estrategista política e referência em representatividade feminina. Com mais de duas décadas de experiência em campanhas políticas nacionais e internacionais, a profissional é especialista em capacitar e qualificar mulheres para a política. Gaby é formada em Inteligência Estratégica, mestre em Marketing Político e Campanhas Eleitorais pela Universidade de Alcalá, na Espanha, e possui MBA em Gestão Pública. Também é criadora do podcast Voz da Vez, que debate o olhar mais humano para o futuro através da perspectiva feminina.

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